Trauma e impacto no corpo e na sáude

trauma

  1. MEDICINA: qualquer lesão ou perturbação produzida no organismo por um agente exterior acionado por uma força; traumatismo
  2. ferida contusa; contusão
  3. PSICOLOGIA:acontecimento emocionalmente doloroso que torna o sujeito particularmente sensível em situações similares

Origem etimológica: grego traûma, -atosferidadano, avaria.

Os nossos cérebros são extraordinários mas como qualquer objeto do universo, estão sujeitos a serem impactados negativamente por agentes exteriores. Quando pensamos em trauma, tipicamente pensamos que é “só na nossa cabeça”. Tal não podia estar mais longe da verdade. O trauma deixa uma marca duradoura e concreta no nosso corpo e interrompe os processos de armazenamento da memória de tal forma que as memórias traumáticas não são armazenadas adequadamente. Em vez disso, o cérebro recorre a um método mais simples de registar o evento, que consiste em imagens ou sensações corporais – a memória do trauma é dividida em fragmentos que funcionam como estilhaços que dificultam o processo natural de recuperação.

Uma pessoa que sobreviva a um grave acidente de carro pode não se lembrar dos detalhes mas sente fisicamente e visceralmente aversão a voltar a entrar num carro. O ritmo cardíaco aumenta, as mãos ficam suadas e o estômago dá um nó. Estas são reações naturais a um trauma anterior. O corpo lembra-se e pensa que ainda está em perigo…

Situações stressantes – seja um acidente de carro ou um prazo iminente no trabalho – podem desencadear a libertação de hormonas relacionadas com o stress que levam a alterações fisiológicas como as descritas anteriormente.

Estas alterações fazem parte da resposta de fuga e luta, um mecanismo de sobrevivência desenhado pela evolução e destinado a nos proteger de situações de risco de vida. O nosso corpo está a preparar-se para fugir ou se defender.

Pessoas que sobreviveram a trauma, quer seja na infância ou na vida adulta, podem viver presos numa resposta de fuga e luta durante meses, anos ou décadas.

Lembre-se da última vez que sentiu ansiedade ou medo e imagine o seu corpo a passar por isso repetidamente durante anos… Claro que terá um impacto na sua saúde física e bem estar, nas suas emoções, comportamentos, capacidade de raciocínio e atenção. Como não?

Além do impacto psicológico e emocional salienta-se o impacto físico de exposição ao stress a longo prazo: baixa energia, dores de cabeça, problemas gastrointestinais, dores musculares, dores no peito e taquicardia, constipações e infeções frequentes, perda de desejo sexual, tremores, zumbido nos ouvidos, mãos e pés frios, boca seca, insónia, bruxismo…

Talvez se reveja a si ou a alguém que ama em alguns destes sintomas, que aparentam não ter causa médica clara e tratável. É comum a causa ser stress prolongado, trauma não resolvido ou PTSD.

Podemos então retirar um ponto principal sobre o trauma no corpo: O corpo não consegue diferenciar entre perigo físico e emocional, perigo percebido e perigo real, perigo passado e perigo atual.

Este ponto pode ser extremamente frustrante se estivermos a tentar lidar com o impacto do trauma mas, por favor, seja compreensivo e paciente consigo – o seu corpo só está a fazer o trabalho para o qual foi desenhado: mante-lo/a seguro/a. A psicoterapia pode ajudá-lo a recalibrar o sistema de alarme interno, muitas vezes incrivelmente útil e eficaz mas outras vezes excessivamente cuidadoso. Pode ser assim  uma ajuda importante, não só na sua saúde psicológica mas também na sua saúde física. Não temos de sofrer em silêncio, não temos de sofrer para sempre.

 

Autores

Dinis Martins

Psicólogo