Cuidar da mente através do corpo: Atividade física e saúde mental
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sedentarismo tem vindo a aumentar de forma preocupante em todo o mundo. Mais do que uma questão estética, está a tornar-se num grave problema de saúde pública. Estima-se que cerca de 60% da população mundial não pratica atividade física suficiente. Estudos epidemiológicos indicam que o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças e um dos grandes responsáveis pelo aumento da taxa de mortalidade. Para além do impacto a nível da saúde física, também a saúde mental sofre com a falta de movimento. O sedentarismo está associado a uma série de resultados negativos como baixa autoestima, menores níveis de bem-estar, maiores níveis de isolamento social, stress, ansiedade e depressão. Além disso, associa-se também a um maior risco de desenvolvimento de demência.
Uma vez que as perturbações mentais ou sintomatologia psicopatológica têm uma natureza multifacetada, constituída por fatores biológicos, psicológicos e ambientais, que contribuem para o seu início e evolução, o seu tratamento exige uma abordagem biopsicossocial, considerando as circunstâncias e necessidades únicas de cada indivíduo. Esta abordagem pode englobar intervenções psicológicas, farmacológicas, e modificações no estilo de vida, tais como a prática de atividade física regular. A sabedoria milenar Mens sana in corpore sano, ensina-nos que o equilíbrio do funcionamento humano está numa “Mente sã, num corpo são”. Ou seja, para cuidar da mente, precisamos de cuidar do corpo, e vice-versa.
Já conhece os inúmeros benefícios da prática de atividade física?
- Contribui para a prevenção de doenças, incluindo as principais doenças crónicas: A atividade física melhora a circulação sanguínea, regula os batimentos cardíacos, fortalece a musculatura e melhora a postura, reduzindo o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e cancro.
- Promove melhorias na saúde física (e.g., aumento da resistência, fortalecimento muscular, melhoria da capacidade respiratória e maior flexibilidade).
- Diminui os níveis de stress, ansiedade e depressão, bem como alguns sintomas associados a Perturbações do Neurodesenvolvimento, como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção: A atividade física ajuda a reduzir os níveis de cortisol e potencia a libertação de alguns neurotransmissores — como dopamina, serotonina e endorfinas — essenciais para o alívio do stress e a regulação do humor.
- Em casos de doenças mentais graves, como a Esquizofrenia e a Perturbação Bipolar, a prática de exercício pode melhorar aspetos como a autonomia, a confiança, a interação social e o bem-estar psicológico; também pode contribuir para melhorar funções cognitivas como memória, atenção e capacidade de resolução de problemas.
- Promove a autoestima: O bem-estar físico e mental melhora o humor e a disposição, refletindo-se na forma como cada pessoa se vê a si mesma e na sua satisfação com a vida.
- Contribui para uma melhor qualidade do sono: A atividade física ajuda a regular o ciclo sono-vigília, promovendo um descanso mais profundo e reparador.
- Promove o desenvolvimento de competências sociais e o trabalho em equipa, especialmente quando é praticada em grupo.
- Potencia a neurogénese e a plasticidade cerebral, incentivando a formação de novas conexões neuronais e a sobrevivência dos neurónios existentes, resultando numa melhoria da cognição e da memória.
Que atividade física se deve fazer e com que frequência?
Segundo as diretrizes da OMS, os adultos entre os 18 e os 64 anos devem praticar, pelo menos, entre 150 a 300 minutos semanais de exercício aeróbico moderado (como caminhada rápida, natação ou ciclismo) ou entre 75 a 150 minutos de atividade aeróbica intensa (como corrida ou treino de alta intensidade). Uma combinação de ambos também é válida. Além disso, recomenda-se a prática de exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana.
A escolha da atividade física depende das preferências e necessidades individuais.
Para quem enfrenta limitações (e.g., condições de saúde, falta de tempo ou questões financeiras), existem formas simples de integrar mais movimento no dia a dia:
– Rotina ativa: substitua elevadores por escadas, vá a pé a lugares próximos.
– Trabalho ativo: movimente-se 5 minutos por cada hora – levante-se, alongue, faça reuniões ou chamadas telefónicas de pé, ou a caminhar pela sala, sempre que possível.
– Lazer ativo: Dance enquanto ouve música em casa; experimente atividades ao ar livre, como caminhadas na natureza ou trilhos locais.
Seja um passeio na natureza ou uma corrida intensa, uma prática de yoga ou um jogo de padel com amigos, o importante é manter-se ativo e encontrar formas agradáveis e sustentáveis de integrar o exercício na sua rotina, ao longo da vida. Cada movimento conta. Cuide da mente através do corpo, seja ativo.
Referências
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https://saudeonline.pt/exercicio-fisico-e-depressao-por-gustavo-jesus/
https://www.jn.pt/3748969734/a-importancia-da-atividade-fisica-para-a-saude-mental/
https://www.publico.pt/2023/11/29/impar/opiniao/mente-precisa-exercicio-2071244