Ano Novo, Vida Nova?
Aquando da passagem de ano, são vários os rituais e tradições que se cumprem. Desde comer as 12 passas, pedir um desejo em cada badalada da meia noite ou estabelecer um conjunto de resoluções para o novo ano. Ter uma alimentação mais saudável, praticar mais exercício físico, passar mais tempo com a família ou com os amigos, são apenas alguns exemplos. Contudo, em muitos casos estas resoluções revelam-se pouco duradouras e acabam por ser abandonadas.
Identifica-se com alguns destes pontos? Reconhece que isto também acontece consigo? Poderá questionar-se, mas porquê? Porque é que é difícil cumprir com aquilo que definimos?
Existem uma série de justificações para que isto aconteça, tendo em conta a individualidade e contextos de vida de cada um de nós. Porém, há alguns aspetos importantes que podemos considerar e refletir.
De que forma planeou e preparou a execução dessas resoluções? Ter uma alimentação mais saudável ao longo do ano é realmente importante, mas pensou antecipadamente no que isso iria implicar? Definir uma ementa mais saudável de acordo com os seus gostos pessoais, comprar os produtos atempadamente, ponderar o que não está a ser saudável na sua rotina de alimentação atualmente, entre tantas outras coisas. É muito importante ponderarmos e planearmos como vamos conseguir encaixar nas nossas vidas aquilo que queremos mudar, ou como vamos mudar as nossas vidas para conseguirmos realizar aquilo a que nos propomos.
As resoluções que definiu são realmente importantes para si? Quando estava a ponderar as suas resoluções estava a pensar realmente em si e no que gostaria que a sua vida fosse, ou estava a pensar em como gostaria que a sua vida fosse parecida com a daquela pessoa que admira ou que segue nas redes sociais? Definiu-as para ter o mesmo que os outros têm ou porque quer mudar algo no sentido e significado da sua vida? Somos seres sociais, vivemos em sociedade e claro que a comparação social faz parte da nossa vida. Contudo, quando definimos algo em comparação com os outros, esquecemo-nos do que é realmente importante para nós e de perceber se é significativo para a vida que queremos viver. Para além disso, a sociedade impõe uma série de regras e normativos sociais com os quais podemos não nos identificar.
Para além disso, de acordo com a teoria que explica a mudança no comportamento humano, é muito difícil operar uma mudança da noite para o dia, nomeadamente da noite de 31 de dezembro para a manhã do dia 1 de janeiro. Para que efetivamente a mudança aconteça, são necessários uma série de passos, desde identificar e compreender que existe algo que queremos mudar, identificarmos medidas para nos preparamos para essa mudança e perceber como manter essa mudança a longo-prazo.
Assim, após refletir sobre estas questões, permita-se voltar a olhar para as suas resoluções de ano novo e faça alguns ajustes. Antes de mais, olhe para elas e tente para cada uma torná-la específica, realista, atingível, mensurável e definida no tempo. Por exemplo, em vez de definir apenas “praticar mais exercício físico”, especifique: fazer uma caminhada durante 30 minutos, 2 vezes por semana (de acordo com o que for realista e atingível na sua vida).
As grandes caminhadas iniciam-se com pequenos passos. Assim, permita-se a adotar uma perspetiva de longo-prazo e perceber quais são os seus objetivos maiores. Mas seja capaz de os decompor em pequenos passos para percorrer esse caminho. A frustração, ansiedade e irritação irão fazer parte do processo. Se quer aprender uma língua nova, vai passar por um processo de aprendizagem que nem sempre vai ser fácil. E é nestes momentos de dificuldade que a sua mente lhe vai dizer que talvez seja melhor desistir. Mas não lhe dê ouvidos! Recorde-se da intenção pela qual está a aprender uma língua nova.
Muito importante ainda, foque-se mais no processo do que no resultado final. Ao longo da caminhada para chegar ao seu destino, irá ter a oportunidade de aprender tantas outras coisas, de desenvolver tantas outras competências que lhe podem ser úteis. Permita-se a observar de forma mais atenta a realidade que o rodeia. Seja curioso! Para além disso, não espere que seja a motivação o seu principal impulsionador, ela vai faltar em alguns momentos. O seu principal combustível deve ser o comprometimento com os seus valores. A motivação irá surgir quando perceber que as pequenas mudanças que está a realizar diariamente na sua vida estão a contribuir para se aproximar da pessoa que quer ser e lhe estão a permitir viver de acordo com a vida que deseja.
Preparado para redefinir as suas resoluções?
Autores
Marina Oliveira
Psicóloga Clínica e da Saúde Mestre em Psicologia Clínica: Intervenções Cognitivo-Comportamentais, pela Universidade de Coimbra. Formação especializada em reabilitação psicossocial em saúde mental Experiência em prática clínica em contexto institucional, com base no modelo de reabilitação psicossocial, experiência na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental